quinta-feira, 22 de julho de 2010

BURIL DE LUZ

Em teus dias de dor,

Recorda, alma querida,

Que a dor é para a vida

Aquilo que o buril severo e contundente,

Entre as mãos do escultor,

É para o mármore sem forma...

Golpe aqui, golpe ali, outro mais e mais outro,

Um corte de outro corte se aproxima,

E o bloco se transforma

Em celeste beleza de obra-prima.

Que seria da pedra abandonada, ao chão,

Triste, bruta, singela,

Se a vida não traçasse para ela

Planos de construção?

Que destino o da argila esquecida e vulgar,

Sem a temperatura desumana,

Que deve suportar

Para ser porcelana?

Enxergaste, algum dia,

Fora das leis da natureza,

O trigo que não fosse triturado

Para ser pão à mesa?

Se alguém te fere e humilha, ama, entende, perdoa

E agradece ao trabalho, a angústia e a prova,

Em que a vida imortal se nos renova,

No anseio de ascensão que nos guia e abençoa...

Alma querida, escuta!...

Para seguir à frente,

Em plena elevação

Sempre mais alta e linda,

Quem não chora, não serve e nem padece ou luta,

Parece tão-somente

Um ser espiritual em formação

Que não nasceu ainda...

Maria Dolores

(De “Mãos Marcadas”, de Francisco Cândido Xavier – Espíritos Diversos)

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