sexta-feira, 9 de abril de 2010

BIOGRAFIA DE AUTA DE SOUZA

Nasceu em Macaíba, pequena cidade do Rio Grande do Norte, a 12 de setembro de 1876. Era filha de Elói Castriciano de Souza e da Dª Henriqueta Leopoldina Rodrigues de Souza. Nasceu "magrinha", calada, era, como o irmão Irineu, de pele clara, um moreno doce à vista como veludo ao tato. Além de Irineu, Elói (Júnior) e Henrique Castriciano já haviam nascido e, depois de Auta, ainda despontaria o João Câncio.
Desde a infância, nossa poetisa iria estudar, ininterruptamente e resignadamente, as grandes lições do sofrimento humano.
Antes de completar três anos, já é órfã de mãe. Menos de dois anos depois, em janeiro de 1881, desencarna seu pai.
Auta e seus irmãozinhos - ela é a única menina entre os cinco filhos de Elói e Henriqueta - deixam, então Macaíba e são levados pelos avós maternos para Recife, para o velho sobrado do Arraial.

É aí na grande chácara, que Auta, em meio a sofrimentos contínuos, vai conhecer também a sublime dedicação de sua avózinha materna, a Dindinha - D. Silvina de Paula Rodrigues, que será sua mãe de criação, anjo da guarda de seus dias terrenos.
Com os irmãozinhos, teve um professor amigo e aos sete anos já sabia ler e escrever. Aos oito - recorda seu irmão Henrique - lia para as crianças pobres, para humildes mulheres do povo ou velhos escravos as páginas simples e ingênuas da "História de Carlos Magno", brochura que corria os sertões, escrita ao gosto popular da época.

Aos dez anos, uma tragédia vem abalar novamente seu espírito saudoso da dedicação materna e dos carinhos de seu pai, embora a devoção maternal da Dindinha.
Uma noite - noite inesquecível de 15 de fevereiro de 1887 - o seu irão tão carinhoso, o caladão, o companheiro de todas as horas, o Irineu subia ao andar superior do casarão, levando uma lamparina de querosene. Supõe-se que o vento, canalizado em chaminé próxima, provocou a explosão do candeeiro. Irineu foi envolvido em chamas. Grita apavorado, desce a escada, foge para a chácara... Mas quanto mais foge mais as labaredas o cingem. Cai, sem forças, e vai resistir ainda dezoito horas de dor... O irmãozinho poeta (escrevia e ocultava seus versos), o silencioso e humilde Irineu Leão Rodrigues de Souza vai juntar-se aos seus pais... É o que Henrique Castriciano, em sua Nota, assim resume: "era já órfã de pai e mãe, tendo assistido ao espetáculo inesquecível do aniquilamento de um irmão devorado pelas chamas, numa noite de assombro".

Antes dos 12 anos é matriculada no Colégio de São Vicente de Paulo, no bairro da Estância, onde recebe carinhosa acolhida por parte das religiosas francesas que o dirigiam, as "soeurs de charité" que lhe ofertam primorosa educação: Literatura, Inglês, Música, Desenho...

É junto das Irmãs de São Vicente que Auta aprende e domina o idioma francês, o que lhe permitirá ler, no original, Lamartine, Vïtor Hugo, Chateaubriand, Fénelon, com o mesmo carinho que lerá, nos seus últimos dias terrestres, a "Imitação do Cristo" as obras de Santa Teresa d’Ávila e os "Pensamentos de Marco Aurélio...
De 1888 a 1890, a jovem Auta estuda, recita, verseja, ajuda as irmãs do Colégio, aprimora a beleza de sua fé na leitura constante do Evangelho, entretece amizades fiéis entre as colegas e as professoras queridas.

Três anos após a desencarnação trágica do irmãozinho querido, ainda no Educandário da Estância, em 1890, manifestaram-se os primeiros sinais da enfermidade (tuberculose) que iria consumir seu frágil organismo.
"Foi sempre fraquinha"- revelaria mais tarde seu irmão Henrique a Câmara Cascudo. Auta era uma jovem de 14 anos: a princesinha de Elói e Henriqueta iniciava novos e doridos passos do seu calvário...
A Dindinha, depois de levá-la a vários médicos da capital pernambucana, resolve voltar com os netos para a terra norte-rio-grandense. Ei-los todos, logo, em Macaíba, o berço natal da poetisa...

Auta escreve, relaciona-se com seus contemporâneos mais e mais, ensina às crianças as primeiras noções de religião, mas a enfermidade avança... É preciso buscar o interior, ansiando melhoras em clima seco... E começam as peregrinações, molestosas e tristes, mas sob o amparo angelical da Dindinha: Fazenda Jardim, Araçá, Angicos, Nova Cruz, Utinga, São Gonçalo, com intervalos em Macaíba e Natal, e ainda na Serra da Raíz, na Paraíba...
Quando seu "HORTO" sai do prelo, Auta está em Natal: 20 de junho de 1900. Conta seu biógrafo que, ao receber o volume, "Auta desfez o invólucro, olhou o livro e disse, alto, como um cerimonial: "HORTO!" E depois o apertou ao coração..."
Em sessenta dias estava esgotada a edição.

Foi na capital norte-rio-grandense que Auta se despediu deste mundo, "fugindo às mágoas terrenas", "quebrando os laços" que a prendiam ao cativeiro opressivo da vida terrestre. Em janeiro de 1901, cerca de um mês de sua desencarnação, ela pressente a visita da Irmã Libertadora, confia-se ao Divino Amigo e prepara-se para o sublime vôo da ascensão espiritual.

Na madrugada de 7 de fevereiro de 1901 - uma hora e quinze minutos da madrugada - desatam-se finalmente os laços que a prendiam ao corpo enfermo e cansado... Tinha 24 anos, 4 meses e 26 dias.

Refletindo a serenidade interior e a inteireza de sua fé, os olhos tranqüilos se fecham suavemente...
Mas antes, já que não mais poderia dizer uma palavra de despedida, movimenta as mãos num sentido adeus para os que ficam...

Dr. Elias Barbosa, relata na obra "NO MUNDO DE CHICO XAVIER" (2ª Edição pág. 19) o encontro primeiro dela, Auta, com o médium: ... "Recorda, de um modo particular, alguma produção que ficasse inesquecível em sua memória? Sim, recordo-me de um soneto intitulado "NOSSA SENHORA DA AMARGURA", que, se não me engano quanto à data, foi publicado pelo Almanaque de Lembranças, de Lisboa, na sua edição de 1932. Eu estava em oração, certa noite, quando se aproximou de mim, o Espírito de uma jovem, irradiando intensa luz. Pediu papel e lápis e escreveu o soneto a que me referi. Chorou tanto ao escrevê-lo que eu também comecei a chorar de emoção, sem saber, naquele momento, se meus olhos eram os dela ou se os dela eram os meus. Mais tarde, soube, por nosso caro Emmanuel, que se tratava de Auta de Souza, a admirável poetisa do Rio Grande do Norte.
TRECHO DA CARTA DE CHICO XAVIER à M. Quintão. Reformador do ano de 1932 - nº 8 - Abril, pág. 237. Alguns autores há muito tempo que não voltam, como, por exemplo Augusto dos Anjos e Auta de Souza. Desta última conservo muitas saudades. Quando ela escrevia, fazia-me sentir sensações indefiníveis. De algumas vezes, eu sentia que ela se achava em companhia de uma outra alma, bastante elevada, que nos disseram ser uma das que compõem a grande falange que colabora com Celina em sua elevada missão de amor.

Esta companheira da alma que se dava com Auta fazia-se ouvir, isto é, sentir como em relâmpagos, os mais formosos hinos sacros, que eu nunca pude apanhar, porque eram sempre mais vibrações intraduzíveis, melodias que eu podia somente sentir.

Fonte: Livro "Auta de Souza", psicografado pelo médium Francisco Cândido Xavier, IDE e "Campanha de Fraternidade Auta de Souza - Bases e Regulamento", elaborado e editado pela Sociedade de Divulgação Espírita "Auta de Souza" - DF

Nenhum comentário:

Postar um comentário