Carta aos cegos
Na romagem dolorosa
Da vida de provação,
Também trazia os meus olhos
Iguais aos teus, meu irmão.
Mas, se a estrada era obscura,
Se a noite era tão sombria,
Guardava, como tu guardas,
As vibrações de alegria.
É que, entre as sombras terrestres,
Na tua meditação,
Sabes ver os resplendores
Das luzes da redenção.
Talvez que de olhos sadios
Deixastes o teu sensório
Perder-se pelo caminho
Do sentimento ilusório.
Todo aquele que recebe
A provação da cegueira,
Sabe orar, sabe esperar,
Vendo a vida verdadeira.
Não percas a tua fé.
A crença é a grande conquista
De quem resgata no mundo
O abuso dos dons da vista.
Guarda a esperança em Jesus,
Na dor, não te desanimes...
A cegueira é o resultado
De muitos dos nossos crimes...
Nos tempos que já se foram,
Muitos de nós, meu irmão,
Fomos verdugos terríveis,
Plantando a desolação.
Os grandes desvios d'alma,
No erro amargo e mesquinho,
São reparados na sombra
Que nos envolve o caminho.
A cegueira é uma estação
De corrigenda ou de cura,
Onde o espírito se aclara
Visando a estrada futura...
Portanto, as horas de sombra,
No curso de uma existência,
São nossa reintegração
No amor e na inteligência.
Meu amigo, continua
Alegre na fé, no amor;
Quem não sente a Luz de Deus
É um cego mais sofredor.
Também fui cego do corpo,
Na senda de expiação,
Mas nunca guardei comigo
As trevas do coração.
Depois das sombras espessas
Nas lutas da humanidade,
Verás a alvorada eterna
Da luz da Imortalidade.
Casimiro Cunha
(Extraída do livro "Cartas do Evangelho" psicografado por Francisco Cândido Xavier - 5ª edição página 83
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